"A gente espera que até dezembro o PIB do agronegócio cresça. A gente tinha uma previsão de 1,8 por cento (de crescimento em 2015). Não sei se a gente vai conseguir isso", disse à Reuters o coordenador do Núcleo Econômico da CNA, Renato Conchon.
"Em março e abril vimos adversidades que não estavam no nosso modelo em janeiro", completou.
O PIB do agronegócio somou 1,210 trilhão de reais em 2014, segundo estimativas ajustadas à inflação, de acordo com dados compilados pela CNA e pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo.
A CNA apontou que a produção agrícola foi bastante prejudicada no início deste ano, afetando as estatísticas.
Na média das culturas acompanhadas, houve redução de 6,77 por cento das cotações de janeiro a abril de 2015 ante o mesmo período de 2014. Ao mesmo tempo, a produção agrícola cresceu 3,65 por cento, "o que não foi suficiente para compensar a retração em preços", segundo a confederação.
A CNA e o Cepea calculam o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio com metodologia mais ampla, diferente dos estudos oficiais publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Enquanto o "PIB do agronegócio", da CNA, inclui setores como insumos, produção agropecuária, agroindústrias e serviços –o que abrange mais de 20 por cento da economia brasileira–, o IBGE avalia, no seu "PIB da agropecuária", apenas a produção das fazendas, englobando menos de 6 por cento das riquezas produzidas no país.
Segundo Conchon, um aquecimento do agronegócio é esperado no segundo semestre, com mais negociações de insumos agrícolas, devido aos preparativos para a safra de grãos 2015/16, que começa a ser plantada a partir de meados de setembro.
"Começa a compra de fertilizantes. O produtor (de grãos) está retomando as atividades", disse o economista, defendendo a recuperação da previsão para o PIB do agronegócio no transcorrer dos próximos meses, em função da entrada de dados atualizados.
CÂMBIO
O câmbio favorável para exportações –incluindo as do agronegócio– deverá ser outro fator a aumentar a renda do setor até o final de 2015.
"A atividade econômica, dado o câmbio, pode ser maior", afirmou Conchon.
O dólar acumula alta de mais de 30 por cento este ano frente o real. A moeda norte-americana atualmente é negociada na máxima de 12 anos.
Mesmo assim, do ponto de vista dos produtores rurais, o dólar alto não é necessariamente uma boa notícia, uma vez que eleva também os preços da maioria dos insumos, que são importados.
No início da safra 2014/15, muitos conseguiram adquirir fertilizantes e defensivos com dólar mais barato, vendendo parte da colheita já com o dólar mais valorizado, o que ajudou a manter margens em um momento de queda nas cotações internacionais das commodities agrícolas.
Para 2015/16, contudo, especialistas apontam margens de rentabilidade bem mais apertadas para os agricultores.
"No capítulo 1 da história, o dólar salva o produtor. No capítulo 2, ele quebra", analisou o economista da CNA.
PIB BRASILEIRO
A safra recorde de soja do Brasil, colhida em sua maioria no primeiro trimestre deste ano e com crescimento de mais de 10 por cento ante a temporada anterior, foi o principal fator para o aumento do PIB da agropecuária, do IBGE
Nos cálculos oficiais, a agropecuária cresceu 4 por cento em relação a igual período do ano anterior, destacando-se entre outros setores que tiveram recuo, como a indústria (-3 por cento) e serviços (-1,2 por cento), segundo estatística divulgada em maio.
Para 2015, segundo o economista da CNA, a previsão é de que a agropecuária e todos os outros setores ligados à ela, continuem contribuindo com a economia brasileira.
"Que o PIB do Brasil vai cair, é fato. Se não fosse o agronegócio, cairia ainda mais", disse Conchon.
Economistas de instituições financeiras ouvidos pelo Banco Central estimam queda do PIB nacional de 1,8 por cento em 2015.