
Pipericultores capixabas que precisam, ao mesmo tempo, conduzir a safra de café ou outra cultura junto à de pimenta-do-reino têm enfrentado prejuízos devido à falta de mão de obra para colheita dos frutos. A dificuldade para encontrar colaboradores no campo é um desafio crescente e tem levado produtores a buscar alternativas para manter suas atividades, como a instalação de lonas estáticas no solo, no caso da pimenta.

Introduzir as lonas foi a possibilidade que o produtor Plínio de Almeida Carminati, em Vila Valério, município que é o quarto maior produtor da especiaria no ES, de acordo com o Painel Agro 2023, viu para driblar o problema e otimizar a colheita.
“Enquanto a gente terminava a safra de café já tinha pimenta para colher. A questão é que os mesmos profissionais que colhem o café, colhem a pimenta que começa a cair no chão. Quando chove, perdemos no mínimo 10% que vai se misturando ao solo. A lona é uma tecnologia simples que vi como solução”, disse Plínio que cultiva há oito anos.
O produtor iniciou a implantação da lona, que acontecerá em cinco etapas, nas suas 48 mil plantas. Disse que, apesar de não ser um investimento barato, se paga em três anos.
“Se considerar que há aumento da produção, economia de mão de obra para pulverizar e catar, redução do uso de herbicidas, que, inclusive, devido à má condução na lavoura cheguei a perder 15% de um plantio, o investimento se paga antes. Além disso, a adubação é feita na lona que infiltra o produto no solo”, relatou o produtor de Vila Valério.

Reginaldo Guzzo, em Rio Bananal, segunda maior cidade produtora capixaba de pimenta-do-reino, começou a instalação em um plantio menor. O produtor tem planos de instalar a tecnologia em novas áreas, mas, antes, vai adequá-las às medidas da lona para economizar na largura, pois seu espaçamento hoje é maior. Aguarda, agora, a chegada do soprador e do aspirador para recolher a pimenta e a experiência se tornar completa.
“Na primeira colheita tirei o gasto do investimento que fiz para instalação. Onde não há lona tem bastante pimenta no chão, mas a gente tá conseguindo lidar ainda, apesar de que estou deixando de podar o café, porque falta mão de obra qualificada ou, a depender de quem a gente coloca, prefiro dividir o serviço, esperar e fazer junto aos meus colaboradores”, disse Guzzo que vem de uma família que cultiva a especiaria há mais de 20 anos.
Ganho de até 500 gramas por planta
Sávio Cazelli Torezani, produtor de Pinheiros, desde 2023 eliminou o problema de perda, conseguiu retardar a colheita, e calcula um ganho a mais de até 500 gramas por planta por ano.
A cada 15, 20 dias, os colaboradores do Sávio varrem e recolhem o que cai na lona nas propriedades. Conduziu assim desde setembro do ano passado, quando as pimentas começaram a amadurecer, até janeiro deste ano.
“Deixo a planta ficar bem madura e quando vamos colher, colho de uma vez. Aqui na região chove muito em dezembro e janeiro, e os frutos que caíram nesses dois meses não estragaram nada, aproveitei 100% devido à lona. O resultado é um rendimento maior por planta e economia no quilo colhido: consegui reduzir de R$ 1,50 para R$ 0,80 o custo por quilo, com zero aplicação de herbicida nas linhas, somente nas entrelinhas”, frisou Torezani.

O produtor investiu 23 mil por hectare para implantação. “Com o preço da pimenta paguei o investimento feito nos 85 hectares, com 130 mil plantas. É preciso fazer conta. Acredito que uma pimenta bem conduzida, com média de três a quatro quilos por planta/ano, o produtor deixa no chão mais do que o valor do investimento por hectare, pois a safra amadurece muito rápido”, relatou o produtor.
Dentre os benefícios identificados com a instalação das lonas estão: a redução no uso de água, energia e tempo de secagem; redução ou eliminação no uso de herbicidas para mato; redução no preço da mão de obra na colheita; e ganho de maior peso no grão devido à formação completa do fruto atingindo o estágio ideal de maturação.
Valda Ravani, jornalista, redação Campo Vivo