

As exportações capixabas de pimenta-do-reino para a União Europeia registraram uma redução significativa no volume embarcado, com queda de 34,8% em peso e 17,9% em valor, no comparativo 2023 e 2024. Os dados são da Gerência de Dados e Análises da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag). A forte retração no mercado europeu está relacionada às crescentes restrições impostas às importações de produtos agroquímicos. Para superar esse cenário, o uso de insumos biológicos surge como uma alternativa importante para a retomada de mercados mais valorizados.
Os principais mercados compradores estão cada vez mais exigentes, especialmente Estados Unidos e União Europeia. Este último endureceu sua legislação de importação, o que levou o Brasil a quase zerar suas exportações em determinado momento, informou o subsecretário de Desenvolvimento Rural da Seag, Michel Tesch. A pimenta precisa apresentar alta qualidade e segurança, ou seja, sem contaminações microbiológicas e com resíduos químicos praticamente zerados.
Apesar do Estado ser o maior produtor e maior exportador da especiaria do Brasil, dados mostram que o acesso ao mercado europeu ficou mais restritivo ao estado capixaba, visto que houve queda no valor exportado, saindo de US$ 8,58 milhões em 2023 para US$ 7,04 milhões em 2024, representando uma queda de 17,9%. Já o peso reduziu de 2.504 para 1.632 toneladas, uma redução mais expressiva de 34,8%.
“Esse impacto mostrou, claramente, que para permanecer no comércio exterior precisamos cumprir com os requisitos de segurança do alimento. É necessário cumprir limites máximos de resíduos muito estritos, garantir que o produto não tenha contaminantes como Salmonela ou Antraquinona, e obedecer protocolos de rastreabilidade e boas práticas agrícolas”, destacou o subsecretário, ressaltando que esse cenário de exigências e restrições nos mercados americanos e europeu se estende desde 2019.
Em função disso, há exportadores capixabas investindo em equipamentos de processamento pós-colheita, especialmente para sanitizar os produtos, eliminando o risco de estarem contaminados por Salmonela.

Em paralelo, têm sido desenvolvidos protocolos de boas práticas de produção e pós-colheita, com foco na sustentabilidade. O uso de produtos biológicos é uma das que apresenta vantagens significativas em relação aos defensivos químicos convencionais.
Tesch destaca, ainda, que em primeiro lugar os biológicos reduzem ou eliminam resíduos nos produtos, o que é crucial para uma cultura exportadora como é o caso da pimenta-do-reino. Com menos resíduos, diminui o risco de barreiras comerciais e aumenta a aceitação do produto brasileiro lá fora.
“Além disso, os bioinsumos tendem a ser mais seguros para o meio ambiente, pois melhoram a microbiota do solo, ampliam a resistência das plantas e ainda podem controlar pragas e doenças sem afetar os inimigos naturais. E, na grande maioria, praticamente sem toxicidade para os aplicadores, preservando a saúde, quando aplicados corretamente. Ao longo prazo, ao reduzir a aplicação de defensivos tradicionais, o produtor pode diminuir custos de produção, mas é preciso de equipe capacitada”, explicou.
O produtor rural e empresário, Leonardo Cavalcante, fez sua primeira colheita no ano passado, mas, desde o início adaptou o plantio, que fica no distrito do Farias, em Linhares, às exigências de mercado.
“Uso 100% produtos biológicos e sigo a tendência que é produzir o mais natural possível. Estou investindo agora para colher no futuro. Vejo que assim como acontece com o mamão, essa exigência vai afunilar para outras culturas e precisamos nos preparar. Agora, estou na fase de montagem do secador para secagem no fogo indireto”, comentou Cavalcante.
Sustentabilidade é pré-requisito
O produto ser sustentável tornou-se praticamente um pré-requisito nos mercados mais valorizados. Na prática, a adoção de bioinsumos pode ajudar os produtores a eliminarem riscos de contaminação química e melhorar a percepção ambiental sobre a pimenta-do-reino, fatores que abrem portas lá fora. Apesar dos benefícios, existem desafios a serem superados.
“O primeiro desafio é a necessidade de ampliar a capacitação de técnicos produtores sobre o potencial uso de biológicos. Muitos ainda não estão familiarizados com esse tipo de manejo, que, embora pareça simples, não deixa de exigir cuidado adequado para que o produto cumpra a finalidade para a qual foi desenvolvido”, explicou o subsecretário.
No aspecto das limitações, há casos como o das micorrizas, que é um tipo de fungo que melhora a absorção de água e nutrientes e induz maior resistência às pragas e doenças e aos estresses. O desafio está na dificuldade de multiplicação em escala e consequente disponibilidade no mercado.
Tendências
A tendência é ampliar o uso de bioinsumos no controle fitossanitário, não só na pimenta-do-reino, mas em diversas culturas, acompanhando o movimento global de inovação no agro, frisa o subsecretário de Desenvolvimento Rural do ES, informando que tem sido feitos investimentos públicos e privados em pesquisa para ampliar o leque de soluções à disposição dos produtores.
“Aqui no Espírito Santo, o Governo do Estado já direcionou recursos para pesquisa e desenvolvimento tecnológico na pimenta, fortalecendo parcerias com cooperativas, universidades e outras entidades. Com isso, têm surgido avanços significativos que incluem formulações mais eficientes, produtos específicos para pragas e doenças desafiadoras, e até o uso de tecnologias como a biotecnologia e genômica para descobrir agentes de controle mais eficazes. Somos o maior produtor e maior exportador do Brasil, mas a meta é sermos reconhecidos não apenas pelo volume, mas pela excelência em qualidade e sustentabilidade”, completou Tesch.
Valda Ravani, Redação Campo Vivo