
O mercado de café segue marcado pela volatilidade. Depois de uma forte queda em junho, os preços apresentaram recuperação significativa em agosto: o arábica subiu 40% em Nova Iorque, enquanto o robusta avançou 45% em Londres, segundo relatório do RaboResearch divulgado nesta terça-feira (3).
Estoques baixos e safra ajustada mantêm pressão sobre preços
Mesmo com previsão de maior oferta global em 2026, principalmente de Brasil e Vietnã, os fundamentos de curto prazo seguem firmes. Os estoques nos países consumidores continuam em níveis reduzidos, e o superávit mundial projetado para 2025/26 deve ser de apenas 1,4 milhão de sacas — o quinto ano seguido de aperto no mercado.
No Brasil, a colheita 2025/26 está praticamente finalizada, mas com queda de produtividade no arábica. A produção deve recuar 14% em relação ao ciclo anterior, totalizando 38,1 milhões de sacas. O conilon deve compensar parcialmente, com previsão de 24,7 milhões de sacas.
Geadas e impacto regional na produção
Em agosto, geadas atingiram áreas produtoras de café arábica. Embora os danos tenham sido pontuais, no Cerrado Mineiro os impactos foram mais graves. Um levantamento de cooperativas locais estima redução de 412 mil sacas no potencial produtivo da safra de 2026. Ainda assim, a projeção do Rabobank é de recuperação para o ciclo 2026/27, tanto no arábica quanto no robusta.
Conflitos e tarifas aumentam incertezas
O cenário geopolítico também adiciona riscos ao setor. Conflitos no Mar Vermelho, a regulamentação europeia EUDR e tarifas comerciais pesam sobre o mercado. No início de agosto, os Estados Unidos aplicaram uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro.
As exportações do Brasil para os EUA caíram 18% entre janeiro e julho de 2025, mas o país segue como principal destino do produto. A expectativa é que a indústria americana utilize os estoques atuais — suficientes para 60 dias — antes de retomar compras, aguardando possível renegociação.
Perspectivas e pontos de atenção
Especialistas avaliam que a substituição total do café brasileiro no mercado americano é improvável, mas a competitividade foi fortemente afetada. Entre os principais pontos de atenção estão:
- Estoques certificados em Nova Iorque já caíram 15% desde julho;
- Nos portos americanos, a redução foi de 41%;
- Importadores europeus podem antecipar compras, como ocorreu em 2024, devido às regras da EUDR.
Cenário para os próximos anos
Com o crescimento esperado da produção em outros países em 2026, aliado aos efeitos das tarifas americanas, os preços podem enfrentar pressão no longo prazo. Contudo, fatores climáticos e oscilações de curto prazo devem continuar a sustentar a volatilidade no mercado.
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