
O anúncio da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros como o café nas exportações aos Estados Unidos, a partir de 1º de agosto, já refletiu no mercado global e provocou nova volatilidade no comércio de futuros do café. A nova tarifa também pode afetar o consumo norte-americano do grão.
Na manhã de quinta (10), os contratos futuros de arábica negociados em Nova York saltaram mais de 3,5%, fechando o dia a 1,3%. Segundo o New York Post, embora os preços de arábica e robusta tivessem recuado levemente com a expectativa de colheitas melhores, o cenário agora está ameaçado pelas tensões comerciais.
Em nota divulgada na quinta (10), a Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café) afirma que a decisão de Trump foi comunicada de forma unilateral e compromete a competitividade do Brasil. “A medida representa um grave retrocesso nas relações comerciais entre os dois países, que pode gerar impactos extremamente negativos e relevantes para toda a cadeia produtiva do café brasileiro”.
Anunciada por Donald Trump no final da tarde de quarta-feira (9) em carta publicada na rede Truth Social, a sobretaxa está vinculada às acusações, feitas pelo presidente dos EUA, de que o governo brasileiro “ataca a liberdade de expressão” e orquestra uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Isso, de acordo com especialistas do mercado, torna a discussão mais complexa.
O Brasil é responsável por cerca de 30% das exportações globais de café e por aproximadamente um terço das importações americanas – em 2024, o país enviou 8,1 milhões de sacas aos Estados Unidos. “Com a nova tarifa, o café brasileiro perde competitividade no mercado americano, uma vez que o aumento de custos para os importadores tende a favorecer outros produtores”, explica Guilherme Morya, analista de café do Rabobank. Para ele, países como Colômbia, Honduras, Etiópia e Vietnã, com taxas menores, devem se beneficiar da nova configuração, especialmente em um contexto de estoques globais apertados.
Os analistas dizem que ainda é cedo para avaliar os efeitos da nova tarifa a longo prazo. “Teremos de aguardar os próximos dias e observar os desdobramentos da imposição de uma taxa que atrapalha e pune os centenários negócios de café entre brasileiros e americanos”, escreveu em seu boletim diário Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, sobre a imposição que considera “tecnicamente incompreensível”. “É uma decisão que não tem ganhadores. Certamente os importadores americanos dos nossos cafés irão trabalhar conosco para tentar reverter essa decisão danosa para os cafeicultores brasileiros e para os consumidores americanos”, completa.
De fato, a medida pode reduzir a demanda americana pelos grãos brasileiros (os EUA consomem, anualmente, cerca de 24 milhões de sacas de café). “Apesar da recente queda nos preços, o consumo segue pressionado por fatores inflacionários e econômicos”, analisa Morya. “Um aumento de 50% nos custos pode agravar esse cenário, tornando o café um produto menos acessível ao consumidor final.”
“Sabemos que quem vai ser onerado é o consumidor norte-americano, e tudo que gera impactos ao consumo é ruim para o fluxo do comércio, é ruim para a indústria, é ruim para o desenvolvimento dos países produtores e consumidores”, afirma Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), que acompanha com atenção as discussões sobre as novas tarifas.
Matos reforça que o café gera muita riqueza aos Estados Unidos, que agrega valor ao produto no processo de industrialização. O café representa 1,2% do PIB norte-americano e é responsável por 2,2 milhões de empregos no país. Para cada U$ 1 de café importado são gerados US$ 43 na economia americana.
“Será crucial observar se a tarifa será implementada integralmente e por quanto tempo permanecerá em vigor, pois ela pode reconfigurar os fluxos do comércio internacional de café, com impactos para produtores, exportadores e consumidores”, acrescenta Morya. “Temos esperança de que o bom senso prevaleça”, diz Matos.
CaféPoint