
Há cinco anos, o produtor rural Francisco Sales Saiter, de Córrego Tesouro, no município de Vila Valério, decidiu investir em uma solução sustentável para sua propriedade: criou um biodigestor que transforma o esterco de gado em biogás. Mas, foi o biofertilizante produzido neste processo que se revelou o produto mais valioso. A experiência de Francisco motivou outros produtores a adotarem essa tecnologia, levando o Escritório Local do Incaper Linhares a instalar, em 2023, cinco biodigestores no município.

Hoje, o bioinsumo substitui mais de 50% do adubo químico utilizado nas lavouras de café e pimenta-do-reino do produtor, além de ser utilizado em 100% nos cultivos de milho, aipim e batata e, também, em uma pequena área de café.
Francisco explica que, a cada dois dias, a caixa do biodigestor é abastecida com 50% de esterco e a outra metade com água. Após a mistura é fechada, e o processo fermentativo começa produzindo o biogás que a família utiliza para cozinhar, torrar café e fazer rapadura. O líquido resultante, o biofertilizante, é aplicado nas plantações, promovendo uma agricultura mais sustentável.
“Vi que no Nordeste já existia o biodigestor, então pesquisei e montei o meu. Com esse biofertilizante, é possível colher até 80 sacas de café por hectare, usando só esse insumo”, conta o Vila Valério.
Inspiração
A iniciativa de Francisco chamou a atenção de um grupo de Linhares que, sob orientação do Incaper, visitou sua propriedade para conhecer de perto a tecnologia.

O coordenador do Escritório Local do Incaper em Linhares, Daniel do Nascimento Duarte, informou que, após a visita, o projeto foi inscrito e selecionado por meio de edital da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES). Dos cinco biodigestores construídos na região, três estão no Assentamento Sezínio Fernandes de Jesus – um funcionamento com esterco de suíno e dois de gado – e dois no Córrego Jacutinga, no distrito do Farias, à base de esterco de carneiro e suíno.
“De início, o que mais encantou os agricultores foi a possibilidade de produzir seu próprio biogás. Depois, perceberam os benefícios do biofertilizante. Hoje, esse material orgânico é utilizado em lavouras convencionais, como café e pimenta-do-reino, além de frutas e hortaliças, podendo ser aplicado na folha, no pé ou em canteiros de olerícolas”, explica Duarte.
Na propriedade de Anderlúcio Agostini, no Assentamento Sezínio Fernandes de Jesus, a primeira a receber o biodigestor do projeto do Incaper, o equipamento funciona 50% com esterco e 50% com urina de porco. O biogestor é abastecido duas vezes na semana, assim que é feita a limpeza do chiqueiro. O biogás produzido atende a residência de seus pais, que moram próximo, e o insumo é utilizado para adubar a horta e as árvores frutíferas da família.
“Sempre moramos na roça e sempre tivemos criação. Vimos no biodigestor muitos benefícios. Além de gerar o biogás, tem o insumo para adubação e a questão sanitária. Sempre tive o cuidado de descartar o dejeto para não prejudicar o meio ambiente, isso é algo sério, e o biodigestor, também nesse caso, se torna uma solução para não contaminar o solo. Seria importante se tivessem políticas públicas voltadas a essa questão”, comentou o produtor.
Benefícios
A instalação do biodigestor é de baixo custo, fácil manuseio, e os agricultores precisam de um número pequeno de animais – seja boi, porco, galinha ou carneiro, para ter um equipamento na propriedade.
Dentre as vantagens do uso do biofertilizante, destacam-se a redução do uso de insumos químicos, menor incidência de pragas e um solo mais saudável, com menos necessidade de defensivos agrícolas, pontua o coordenador do Escritório Local do Incaper em Linhares, Daniel do Nascimento Duarte.
Para o meio ambiente, os biodigestores representam uma importante ferramenta de conservação. Eles transformam resíduos orgânicos em energia renovável (biogás) e biofertilizantes, ajudando a diminuir a poluição, as emissões de gases de efeito estufa e a melhorar a qualidade do solo e da água.
“Os agricultores têm obtido resultados positivos ao usar o biofertilizante. Ainda não há recomendações específicas de adubação para esse material, os bioinsumos precisam ser estudados mais a fundo. Recentemente, junto à equipe de pesquisa do Incaper, inscrevemos um projeto para estudarmos mais profundamente os bioinsumos dos biodigestores”, concluiu o coordenador.
Valda Ravani, Redação Campo Vivo