A produção nacional de leite é quase equivalente ao consumo interno, tanto que o setor ainda demanda importações. Porém, o alto custo ao pecuarista faz com que o País recorra às exportações pra incrementar as receitas obtidas.
A avaliação é do presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Leite Brasil), Jorge Rubez, diante da divulgação sobre a abertura do mercado russo para compras de leite em pó, anunciada ontem (8) pela ministra da Agricultura, Kátia Abreu, de Moscou.
"Exportamos apenas 1% da nossa produção, que em 2014 foi de 37 bilhões de litros. Aumentamos nossa produção anual em 5% e nosso consumo avança apenas em 3%. Por conta desse descompasso, temos que aumentar e diversificar nossas exportações", disse a ministra em nota divulgada no site oficial da pasta agrícola.
Análise
Ao DCI, Rubez explica que o Brasil consome praticamente todo o leite que produz, importa cerca de 500 milhões de litros e exporta um bilhão. "Quando falo nesse número, estou incluindo os produtos lácteos – dentre eles, o leite em pó – ou seja, não temos leite suficiente para atender uma nova demanda", afirma. Então, a saída seria aumentar a capacidade produtiva deste segmento da pecuária.
Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostra que a média nacional de preços pagos ao produtor de leite fechou o mês de junho a R$ 1,0413 por litro. Em contrapartida, Rubez conta que o custo de produção também supera R$ 1 e a possível elevação no valor do produto final poderia limitar o consumo interno.
"Vamos exportar mais, a que custo de produção?", questiona o presidente da associação. Segundo ele, pecuaristas de outros países como os Estados Unidos possuem um subsídio do governo para redução do desembolso do produtor e, consequentemente, aumento de competitividade.
Ainda no setor, a Associação Brasileira de Laticínios (Viva Lácteos) espera atingir, a médio prazo, metade do mercado russo, que importa anualmente 630 mil toneladas de leite em pó – equivalente a cerca de US$ 1,2 bilhões. Para o diretor executivo da entidade, Marcelo Costa Martins, a "superação da burocracia" e a credibilidade do sistema de defesa do Brasil foram fundamentais durante as negociações com a Rússia.
As estimativas da Viva Lácteos vão de encontro com as projeções de Kátia Abreu, porém, ainda não foram divulgadas medidas de apoio ao setor.
Defesa sanitária
A secretária de Relações Internacionais do Agronegócio, Tatiana Palermo, reuniu-se ontem com o chefe do Serviço Veterinário e Fitossanitário Federal da Rússia, Sergey Dankvert, e sua equipe para acertar os detalhes de um acordo de sanidade, que estava em negociação desde fevereiro.
O leite em pó fará parte de protocolo de prelisting entre as duas pastas, o que significa que empresas brasileiras poderão ser autorizadas a exportar sem necessidade de fiscalização prévia, desde que atendam aos requisitos da legislação daquele país. A autoridade russa averiguará somente quando julgar necessário.
Acordo comercial
A contramão para a abertura de vendas de leite aos russos foi a compra de trigo daquele país, cujas negociações que já estavam em andamento tomaram rumos mais claros.
De acordo com nota do Ministério da Agricultura, a pasta concluiu as análises para liberar a importação de pescado e de trigo da Rússia, pedido que se arrastava na burocracia. Metade do cereal consumido no mercado interno é proveniente de importação. A demanda é de quase 12 milhões de toneladas e a Argentina é a principal fornecedora.
"Atualmente compramos trigo de países que não têm comércio intenso com o Brasil, como o Canadá. Vamos mudar isso e priorizar os mercados que nos oferecem reciprocidade, como é o caso da Rússia, um dos principais destinos de carnes bovina, suína e de aves", assinalou a ministra.
Questionada sobre eventual encarecimento do produto devido ao custo do frete, a ministra ponderou que a decisão de comprá-lo, ou não, caberá ao mercado. "Se o mercado brasileiro achar que os preços de qualquer país são inviáveis, não é o governo brasileiro que vai impor essa compra. Nossa função é habilitar, não tratamos de subsídios em nenhum momento", disse em teleconferência com jornalistas.
Nayara Figueiredo